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SOLSTÍCIO de inverno.

O solstício de inverno acontece hoje as 18:43. Ele marca a chegada do inverno no hemisfério sul. É um evento astronômico que acontece todos os anos, quando o sol atinge o maior grau de afastamento angular da Linha do Equador.

Para os indígenas latino-americanos, o solstício de inverno marca a chegada do ano novo, onde celebram a Pachamama (mãe terra) e o Tata Inti (pai sol), e é uma das celebrações mais importantes dos povos do originários do nosso continente. Essa data é conhecida como “We Tripantu”, considerada pelos indígenas como um renascer, porque chega a época das colheitas e, em consequência, a terra se prepara para seu novo ciclo, novo tempo de fertilidade. .No Ushuaia, conhecido como a Terra do Fogo, a Festa Nacional da Noite Mais Longa a celebração inicia na noite de 20 de junho e espera a chegada dos primeiros raios de sol do dia 21, durante as celebrações a comunidade guarda o fogo, esperando pela nova energia que está por vir. 

Com o domínio europeu sobre os povos indígenas, a catequização dos índios, houve a instituição de datas cristãs nos mesmos períodos, o que hoje comemoramos como festa junina em homenagem a São João, nada mais é do que uma imposição cultural nada amigável, mas que ocorreu no mundo todo. Mesmo o nascimento de Jesus, comemorado no dia 25 de dezembro é questionado por vários historiadores, pois seria inverno no hemisfério norte, e os acontecimentos da noite do nascimento relatam fatos que não eram coerentes com essa época do ano, mas o domínio do Império Romano sobre os povos pagãos, também fez a transição/imposição cultural sobre as datas comemorativas.

Voltando as festas de São João, elas são marcadas por uma festa típica do interior, parecida com as comemorações indígenas, marcadas pelas colheitas, pela fartura de alimentos vindos da terra, milho, amendoim, cantorias e danças ao anoitecer. O quentão, uma bebida típica dessa festa, marca uma época em que a cachaça era consumida apenas pela população escrava e pela população cabocla, pois não era digna das casas grandes das fazendas. A cachaça era cozida com açúcar e especiarias e servida quente. No sul do Brasil, o quentão é tradicionalmente feito a base de vinho, devido a grande colonização italiana e a grande oferta de vinho, a cultura de cana-de-açúcar não era comum por aqui.

Aqui no Sul do Brasil, o inverno também é a época da colheita de pinhão. Depois da época de defesa, onde apenas os animais podem se alimentar, e então depois, os homens podem colher para consumo e comércio. Essa iguaria é nativa da região sul do país, onde existem áreas predominantes de Mata da Araucária. Essa mata entrou em extinção devido a exploração comercial da madeira e hoje é protegida.

 Em nossa expedição à Serra Catarinense, exploramos e conhecemos uma parte da cultura indígena ainda preservada, a sapecada de pinhão. Forma tradicional dos povos xoklengs de consumir o pinhão. A técnica consiste em montar uma “grimpa” – moita de ganhos e folhas secas caídas de araucária – colocar os pinhões pelo meio e atear fogo. Os pinhões começam a sapecar e de repente começam a emitir um som abafado, como um ar escapando (pfffff), quando esse som começa a se repetir, como a pipoca estourando na panela, está na hora de apagar a grimpa. Os pinhões ficam com a casca tostada, e com um pau, os índios batiam na casca até ela soltar (dá uma olhada no nosso vídeo no IGTV). O pinhão fica com um textura mais crocante e com aroma defumado. Extremamente mais saboroso do que cozido em água.

Para conhecer um pouco mais sobre a visão indígena sobre o solstício de inverno separamos um texto de Casé Angatu Xukuru Tupinambá, publicado no solstício do ano passado:

UMA FESTA INDÍGENA: VIVA SÃO JOÃO E O SOLSTÍCIO DE INVERNO! MAS VIVA ÏACY, KÛARACY E TUPÃ ! VIVA XANGÔ MENINO! Festas Juninas e Cosmologia Indígena

I – PARA OS POVOS DA TERRA A NATUREZA SAGRADA NOS CHAMA À FESTA ENCANTADA !

Por estes dias Ïacy (Lua) se faz mais poranga (bonita) ainda e repleta de energias essenciais. As noites ficam mais longas e os dias mais curtos. Sinta, veja e/ou imagine Ïacy clareando a noite e deixando seu rastro de luz pelo mar, rios e lagos como se fosse uma estrada iluminada.

Mas não é só Ïacy que se faz mais bela ainda. O sol que alguns Parentes chamam de Kûaracy, uma das moradas de Tupã, também se embeleza. Mas Kûaracy prefere admirar toda graça de Ïacy e dá licença pra ela ficar mais tempo no Céu – Ybaca.

Por isto que nesta época os dias ficam mais curtos e as noites mais longas. Alguns chamam estes tempos de solstício … para os Povos da Terra é momento de festejarmos a natureza sagrada.

As festas juninas são profundamente vinculadas às relações do homem e mulheres com a natureza (terra, lua, chuva, céu), sendo uma homenagem à ela porque nos mantém vivos e naturais. Em grande parte do território brasileiro é momento de agradecer e festejar a colheita do que foi plantado. Veja os vídeos anexo “São João dos Índios Xucurus – São João TVPE – 2012″ – Saudações ao Povo Xukuru ! E o vídeo: ” Targino Godim – Oração pra São João – São do Carneirinho”

Às comidas tradicionais deste período, em grande parte de origens indígena, são colhidas e repartidas por todos em festejos embalados ao som de músicas de raízes: forró, música caipira, chula, arrasta pé, quadrilhas etc. Para muitos, especialmente os que vivem em grandes cidades, é um dos poucos momentos de reativar a memória ancestral e lembrar que a origem de tudo está na terra e na natureza sagrada.

É tempo dos arraias, sala de reboco, fogueiras, pau de sebo, corrida de saco, jogar pião, dançar muito forró, música de raiz caipira, beber quentão, licor de jenipapo, comer milho verde, aipim, cuscuz, peão, pipoca, bolo de fubá, mungunzá, curau, canchica, gengibre, cravo, canela, pamonha, maça do amor, canjica, amendoim, bata-doce, aipim, paçoca, pé de moleque, pé de moça …

Para nós estes festejos são resistências e acima de tudo (re)existências porque representam tradições populares e indígenas em seus modos de viver e o manejo com a natureza. Sempre é bom lembrar que: quem produz os alimentos típicos da época, bem como quase todos que comemos diariamente, não é o agronegócio e/ou os ruralistas. Estes produtos e nossa alimentação cotidiana quem produz é agricultura tradicional feita nas roças (alguns chamam de agricultura familiar que nós indígenas sempre tivemos).

Bora então prosear um pouco sobre estes dias e noites novas, ternas e eternas que principiam.

II – TEMPOS IMEMORIAIS DE UMA COSMOLOGIA ANCESTRALMENTE NATURAL

Em junho/2016, nesta mesma época, conversava com minha Parente Cony Ate, originária do Povo Nasa (Cauca – Colômbia) – Myra Gwarini Atã (Povo Guerreiro e forte): minhas saudações ao Povo Nasa. Sempre aprendo muito com Cony, especialmente espiritualmente. Falávamos deste período que muitos chamam de solstício de inverno.

Dizia que no Brasil era época das Festas Junina e de São João – uma das mais tradicionais festas brasileiras, possuindo profundas origens indígenas relacionadas à cosmologia sagrada ancestral. Apesar de poucos saberem disto, mesmo de forma inconsciente, exercitam nossas tradições primordiais.

Cony disse então que, naquela ocasião (junho/2016), estava no Ecuador e lá:

“hay fiestas del Inti Raymi – Fiesta del Sol – nuevo año el 21 de junio/2016”.

Lembrei então de um texto que escrevi em 2015 nesta mesma época. Um texto que falava como o calendário cristão oficial com seus Santos e datas reelaboraram e/ou incorporam elementos das culturas naturais de diferentes Povos de Pindorama (“Brasil”), Guairá (Terras Sem Males), Abya-Yala (“América Latina”) e mesmo entre as comunidades anteriores ao cristianismo oficial na África, Ásia e Europa.

É bom lembrar que o próprio Cristo, bem como seu Povo, vivia em comunidades aldeadas e em profundo contato com elementos da natureza. Já ouvi entre meus Parentes aqui em Olivença (Ilhéus/Bahia) e outros lugares a descrição de Cristo e do Divino Espírito Santo como Encantados da Natureza.

Muitos intelectuais não indígenas classificam isto como sincretismo cultural e/ou de “aculturação” no sentido de perda de cultura, colocando ponto final em suas análises. No entanto, tenho um originário costume indígena de “esperar a conversa dos outros para depois fazer minha prosa”. Um costume ancestral de: “onde colocam ponto final eu coloco vírgula e continuo a conversa”.

Antes de prosseguir penso que vale esclarecer alguns dos possíveis significados do que é o solstício na explicação “racional”. Para isto recorro ao referencial Dicionário Houaiss porque sintetiza pensamentos vigentes. Diz o Dicionário sobre o solstício:

“cada uma das duas datas do ano em que o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador, no seu aparente movimento no céu, e que são 21 ou 23 de junho (solstício de inverno no hemisfério sul e de verão, no hemisfério norte) e 21 ou 23 de dezembro (solstício de verão no hemisfério sul e de inverno, no hemisfério norte). Solstício inverno é o dia do ano em que o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais baixo no céu, e tem-se o dia mais curto do ano e a noite mais longa. Solstício de verão é o dia do ano em que o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais alto no céu, e tem-se o dia mais longo e a noite mais curta do ano” (Dicionário Houaiss)

No universo cristão, quando tentavam me catequizar: Isabel, mãe de João Batista, e Maria, mãe de Jesus Cristo, eram primas e as duas receberam a anunciação da gravidez através do anjo Gabriel. As duas deram à luz em épocas próximas aos dois solstícios: o de inverno (João) e de Verão (Jesus). Vale ponderar que verão e inverno depende do lugar em que estejamos na Cy Aupaba – Pachamama – Mãe Terra.

Nasceram João e Jesus quase no mesmo período dos solstícios de inverno e verão. Diz o imaginário popular que Isabel e Maria combinaram que quem fosse a primeira a “dar à luz’ ascenderia uma fogueira.  Isabel, mãe de João, foi a primeira a conceber. Aliás, os solstícios são consideradas épocas de fertilidade da mãe terra e das pessoas.

Porém, acreditamos que a cristandade oficial reelaborou estes elementos da natureza dos diferentes Povos que vivem na/com o natural. Aliás, como explica Junito de Souza Brandão, um dos papéis da religião é “reordenar universos míticos de cosmologia” tentando oferecer outros sentidos. Escreve Brandão:

“Quanto à religião, do latim religione, a palavra possivelmente se prende ao verbo religare, ação de ligar, o que parece comprovado pela imagem do grande poeta latino Tito Lucrécio Caro (De Rerum Natura, I, 932): Religionum animum nodis exsoluere pergo — esforço-me por libertar o espírito dos nós das superstições — onde o poeta epicurista joga, como está claro, com as palavras religio e nodus, religião (“ligação”) e nó. Religião pode, assim, ser definida como o conjunto de atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Tomando-se o vo cábulo num sentido mais estrito, pode-se dizer que a religião para os antigos é a reatualização e a ritualização do mito.” (BRANDÃO, Junito de Souza. “Mitologia Grega – Volume I”. Petropólis: Vozes, 1986, p. 39) http://grego-12e.wikispaces.com/f…/view/Mitologia+_grega.pdf)

Sem fazer “juízo de valores”, no sentido de ser contra ou a favor às religiões, lendo Brandão percebemos que um dos papeis das mesmas é reordenar cosmologias oferecendo, por vezes, sentidos, valores, centralidades, hierarquizações. Em muitos casos as mesmas servem como mecanismos de imposição e dominação cultural e social – algo semelhante ao que as religiões europeias tentaram fazer durante as colonizações/invasões portuguesas e espanholas – algo que muitas religiões ainda tentam fazer. Digo tentaram e tentam porque: existem os que se convertem, mas também aqueles que não se convertem.

III – DECOLONIARIZANDO E REMEMORANDO

Sentimos que as religiosidades populares e suas cosmologias, como as indígenas e dos Povos chamados de “primitivos” (Obs: nada contra esta palavra quando utilizada no sentido de serem os primeiros Povos), incluindo o Povo onde nasceram Cristo e João, não são iguais às religiões. Isto é, na nossa compreensão e sentimento, as religiosidades populares e indígenas, bem como suas cosmologias, são anteriores e mais profundas do que todas as religiões.

O exercício de reelaboração da cristandade oficial, no entanto, não tem mão única até porque as religiosidades populares e suas cosmologias são ancestrais e naturais. Por isto que em diferentes regiões do mundo, mesmo as colonizadas pelos europeus, ainda comemora-se o solstício em comunhão com os Encantamentos da Natureza: Ïacy, Kûaracy, Ybaca, Aupaba, Tupã (Lua, Sol, Céu, Terra, Forças da Natureza).

Salientamos isto porque acreditamos que aquilo que chamam de sincretismo não é fruto somente de imposições – do etnocídio. Claro que devemos denunciar o massacre cultural (etnocídio ou epistemicídio) e físico (genocídio) dos nossos Povos Originários. No entanto, ocorreram diferenciadas e profundas formas de (re)existências. Parafraseando Foucault e De Certeau, a cada “microfísica” de imposição existiram e existem “microfísicas” de (re)existências.

Não irei listar todos os autores que me inspiram nesta interpretação porque optei por um texto no formato de prosa. No entanto, são vários autores que servem como fundamento teórico nesta análise, especialmente os vinculados ao que muitos chamam de decolonialidade dos saberes entre os quais, modestamente, coloco minha maneira de pensar.

Entre os nossos Povos Originários existem (re)existências como a forma pela qual são realizadas as Festas Juninas e de São João em alguns lugares – por isto o vídeo anexo “São João dos Índios Xucurus” , a lembrança da música “Olha Pro Céu”, cantada por Luiz Gonzaga, e a canção cantada por Maria Bethânia – “São João Xangô Menino”.

No entanto, nossa cosmologia (ou universo epistêmico) ancestral, por vezes, é diluída e esquecida. Isto acontece para apagar a presença indígena naquilo que se chama de cultura brasileira. Silenciar a indianidade que existe em você e em sua ancestralidade. Calar o grito originário ao Direito Congênito, Natural e Sagrado que possuímos à Terra.

Por isto este texto que venho escrevendo e reescrevendo a quatro. No entanto, estas memórias já moram em mim antes mesmo de meu nascimento. É uma forma de contribuir para que nossas ancestralidades não fiquem dormentes. Até porque, de forma consciente ou inconsciente, elas estão por aí. Lembrei de minha Cy Cida (mãe) e da Cy Ana (mãe de minha mãe) que nesta época do ano ficavam admirando o Ybaca (Céu) e Ïacy (Lua).

Esta é uma das épocas também de rituais ancestrais indígenas, conviver em comunidade, partilhar e fertilidade. Um dos momentos quando ocorre o início do ciclo do Kûaracy e de Ïacy, quando a radiação solar na Aupaba – Pachamama – Mãe Terra atinge o seu momento máximo. Kûarasy (Sol) que é uma das moradas de Tupã.

Muitos Povos Indígenas, neste período que alguns chamam de junho, antes mesmo da chegada dos portugueses, realizavam rituais com canto, dança e muita comida. Eram rituais achegados ao plantio e fertilidade. Por isto as festas juninas tem várias comidas típicas advindas das tradições indígenas: quentão, licor de jenipapo, come milho verde, aipim, cuscuz, peão, pipoca, bolo de fubá, mungunzá, curau, canchica, gengibre, cravo, canela, pamonha, maça do amor, canjica, amendoim, bata-doce, aipim, paçoca, pé de moleque, pé de moça …

Da mesma forma, a tradição de dançar em volta da fogueira, pular o fogaréu, pau de sebo, assar comida no fogo ao som do forró pé de serra, do rasta pé, da música caipira e deixar o corpo suar sem pudor com o pé no chão … voltar-se as origens .. à – Aupaba – Pachamama (Mãe Terra).

IV – (RE)EXISTÊNCIA ANCESTRAL E ENCANTADA

Com a chegada dos jesuítas portugueses e suas imposições, os costumes indígenas, em muitos lugares, reelaboram suas tradições. O caráter religioso dos festejos juninos foram antropofagicamente ressignificados pelas tradições indígenas. Por isso que as festas, mesmo celebrando santos católicos, de forma espontânea reelaboram seus significados, transformando-se naturalmente num festejo com profundas marcas ancestrais indígenas. São João dos Carneirinhos vira um Encantado … vira Xangô Menino.

Realçamos, novamente, para nós estes festejos fazem parte da (re)existência sociocultural e espiritual indígena porque representam nossas tradições, ancestralidades e convívio com a natureza sagrada. Sempre é bom relembrar, como escrevemos no início deste texto: quem produz os alimentos típicos da época e quase todos que comemos não é o agronegócio e/ou os ruralistas. Estes produtos e nossa alimentação cotidiana quem produz é agricultura tradicional feita nas roças indígenas e não indígenas.

Talvez também por isto existe uma tentativa de desapropriar as festas juninas do povo e de suas tradições populares e indígenas, tornando-as produtos. Produtos feitos em forma de festas juninas padronizadas comercialmente, bandas de forró eletrônico, sertanejos industrializados, transformando alguns dos lugares tradicionais destes folguedos espaços “para turista vê” (ou tentar comprar), somente acessíveis a quem tem dinheiro como os rodeios e as festas do agronegócio.

As tradições populares e indígenas, por vezes, são apresentadas de modo estereotipadas como pitorescas, pertencentes ao passado, precisando ser superadas e/ou readequadas. Muitas das músicas do forró tradicional e da música caipira de raiz em suas tradições incomodam porque falam dos que vivem na e da terra, num modo de vida que, mesmo inconscientemente, desaviam a lógica produtiva do agronegócio.

É bom lembrar de canções que dizem:

“Eu não troca meu ranchinho

amarradinho de cipó

Por uma casa na cidade ,

nem que seja um bangalô”

(O Inhambu-Xintã e o Xororó – Tonio e Tinoco)

Ou

“Artomove lá nem sabe

se é home ou se é muié

Quem é rico anda em burrico

Quem é pobre anda a pé

Mas o pobre vê nas estrada

O orvaio beijando as flô

Vê de perto o galo campina

Que quando canta muda de cor

Vai moiando os pés no riacho

Que água fresca, nosso Senhor

Vai oiando coisa a grané

Coisas qui, pra mode vê

O cristão tem que andá a pé”

(Estrada de Canindé – Zé Dantas e Luiz Gonzaga)

Também não podemos esquecer que existem aqueles lugares que não terão as festas juninas porque a natureza vem castigando pela seca, chuva e geada. Este castigo que vem para todos, no entanto, é fruto daqueles que não sabem viver com a terra e sim encará-la somente com algo a ser explorado. Existem também os territórios em disputa, como aqui em Olivença (Ilhéus/Bahia), em alguns casos extremos nem as fogueiras juninas serão acesas.

Mas, mesmo assim, lhe convido, pelo menos por estas noites, à …

“Olha pro céu, meu amor

Vê como ele está lindo

Olha praquele balão multicor

Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta

Que tu me deste o teu coração

O céu estava, assim em festa

Pois era noite de São João

Havia balões no ar

Xote, baião no salão

E no terreiro

O teu olhar, que incendiou

Meu coração.”

(Composição: Luiz Gonzaga / José Fernandes)

Casé Angatu Xukuru Tupinambá – Indígena e da Luta Indígena, morador no Território Indígena Tupinambá na Aldeia Gwarini Taba Atã; Historiador; Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC -Ilhéus/Bahia; Professor da Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia – Campos Jorge Amado – PPGER-UFSB-CJA; Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP; Mestre em História pela PUC/SP e Graduado em História pela UNESP/Franca; Autor dos livros, entre outros: “Nem Tudo Era Italiano – São Paulo e pobreza na virada do século XIX-XX (1890-1915)”. SP: Annablume/FAPESP, 2008; “Identidades Urbanas e Globalização: constituição dos territórios em Guarulhos/SP”. SP: Annablume/Sinpro-Gru, 2006; “História e Culturas Indígenas – Alguns Desafios no Ensino e na Aplicação da Lei 11.645/2008: De Qual História e Cultura Indígena Estamos Falando?”. Uberlândia: UFU, 2015

Imagens de Jhon Bermond – artista plástico que utiliza tintas naturais, e sempre empresta beleza as nossas postagens.